1. Entre a crise que não nos larga e o futebol que não nos deixa, mais um feriado. Mais um feriado num país ferido.
Bem recebido por um povo cansado e com a alma dorida, ele serve, acima de tudo, para repousar.
O habitual, nestas alturas, é o deserto invadir as ruas e o tédio avassalar os espíritos.
E, no entanto, o 10 de Junho não é só um feriado para nós. É também um feriado sobre nós, sobre Portugal.
Tirando as cerimónias e discursos oficiais, além de mais um estendal de condecorações, que vestígios há de uma paragem para reflectir?
No limite, cada um vai meditando sobre si e sobre os seus. Os problemas de cada um já são suficientemente aflitivos. Pouco — ou nenhum — espaço sobra, assim, para a comunidade.
Bem recebido por um povo cansado e com a alma dorida, ele serve, acima de tudo, para repousar.
O habitual, nestas alturas, é o deserto invadir as ruas e o tédio avassalar os espíritos.
E, no entanto, o 10 de Junho não é só um feriado para nós. É também um feriado sobre nós, sobre Portugal.
Tirando as cerimónias e discursos oficiais, além de mais um estendal de condecorações, que vestígios há de uma paragem para reflectir?
No limite, cada um vai meditando sobre si e sobre os seus. Os problemas de cada um já são suficientemente aflitivos. Pouco — ou nenhum — espaço sobra, assim, para a comunidade.
2. Somos um país pequeno, mas que, mesmo assim, não cabe em si.
Conseguimos dar novos mundos ao mundo e, apesar disso, não resolvemos os problemas que asfixiam o nosso viver colectivo.
Temos passado, mas parece que não temos memória. Guardamos a história, mas não aparentamos ter muita vontade de continuar a fazer história.
A síntese angustiada de Pessoa mantém-se pertinente: «Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez. Falta cumprir-se Portugal».
Hoje, voltam a dizer-nos que somos um país adiado, mas, nesse caso, já o somos há muitos séculos.
3. Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos.
Temos defeitos. Eis o nosso drama, eis também a nossa sorte. Se não fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e bem feito), que futuro nos restaria?
Houve algum momento em que Portugal não esteve em crise? Em que altura não se disse que vinham aí tempos difíceis?
A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.
Somos, enfim e como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma excepção.
Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».
4. Seja como for, continuamos a sentir Portugal, a fazer Portugal e, não raramente, a chorar Portugal.
Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.
Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa voltará a sorrir.
É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações espalhados pelo mundo!
Conseguimos dar novos mundos ao mundo e, apesar disso, não resolvemos os problemas que asfixiam o nosso viver colectivo.
Temos passado, mas parece que não temos memória. Guardamos a história, mas não aparentamos ter muita vontade de continuar a fazer história.
A síntese angustiada de Pessoa mantém-se pertinente: «Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez. Falta cumprir-se Portugal».
Hoje, voltam a dizer-nos que somos um país adiado, mas, nesse caso, já o somos há muitos séculos.
3. Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos.
Temos defeitos. Eis o nosso drama, eis também a nossa sorte. Se não fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e bem feito), que futuro nos restaria?
Houve algum momento em que Portugal não esteve em crise? Em que altura não se disse que vinham aí tempos difíceis?
A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.
Somos, enfim e como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma excepção.
Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».
4. Seja como for, continuamos a sentir Portugal, a fazer Portugal e, não raramente, a chorar Portugal.
Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.
Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa voltará a sorrir.
É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações espalhados pelo mundo!